"Rua das Figueirinhas": outrora uma das ruas mais movimentadas da cidade

A Rua Martins de Carvalho, mais conhecida por "Rua das Figueirinhas", foi outrora uma das ruas mais movimentadas da cidade. Fomos conhecer os comércios estabelecidos nesta rua pitoresca que liga o Mercado Municipal D. Pedro V à Praça 8 de Maio, e conversar com os seus comerciantes: os que ali estão desde sempre, os "resistentes", e os mais recentes, "os corajosos". Mas, o que mais nos impressionou na tarde que passámos a descobrir as histórias que a Rua nos conta, e que não podíamos deixar de referir, é a amizade e a entreajuda que se sente e se vê entre os Lojistas/Comerciantes, algo aparentemente cada vez mais raro nas ruas da nossa Baixa. Vem connosco passear pela Rua das Figueirinhas?

Adriano Santos e Companhia Lda., número 66

Com 70 ou mais anos de existência, esta é uma das lojas mais antigas da Rua das Figueirinhas. A simpática D. Celeste, de 76 anos, que ali trabalha já há 53, começou como funcionária do Sr. Adriano e da D. Angelina, os primeiros proprietários da loja que era, na época, uma Drogaria. Mais tarde, tornou-se sócia, até ficar como única proprietária. Ao longo dos anos foi alterando o conceito, mantendo sempre o nome. Apesar de ter um cantinho com produtos regionais, esta é uma loja de pronto-a-vestir para as Senhoras de Idade. A D. Celeste diz que ali vai permanecer até poder, "deus me livre, se eu ficar em casa... morro logo". Mas recorda, com muita saudade, a sua rua, onde as pessoas tropeçavam umas nas outras para passar e os mais refilões gritavam "a conversa é boa mas é para a praia, vamos a andar"".

Florista Girassol, número 62
D. Paula, 57 anos, aqui estabelecida há 25 anos e a trabalhar no comércio há 40, recorda com saudade os primeiros anos do negócio, "esta era uma rua boa", e fala com alguma mágoa sobre os dias de hoje. Considera que a cidade está a direcionar-se para os turistas e que se esquece dos seus comerciantes. Ainda assim, só fecha a Florista quando chegar à idade da Reforma. Tem clientes de uma vida: "já fiz os ramos de Noiva das Mães e agora faço os das Filhas", conta, "confiam em mim, no meu gosto". E acrescenta ainda que "não sou pessoa de explorar os preços e isso, hoje em dia, conta muito". Além das flores, a Florista Girassol vende louça de coimbra, hortícolas e árvores para plantar.

Aluguer de Fatos de Anjo, número 60
Este espaço, por norma, encontra-se fechado, porque a sua proprietária está sempre presente no 66 da Rua, a D. Celeste da loja Adriano Santos e Companhia. É um espaço dedicado ao Aluguer de Fatos, especialmente para as Festas da Rainha Santa, mais precisamente para a Procissão. Há fatos de Santos, Anjos e vários acessórios.

Ilda Peres, número 58
Ilda Peres, aprendeu tudo o que sabe com o Pai, Ourives Concerteiro. Há 20 anos, a família trocou o Algarve por Coimbra e Ilda abriu a sua Loja/Oficina de Gravações, na Rua das Figueirinhas, dando continuidade ao Ofício do Pai. Trabalha com grande parte das Ourivesarias da Baixa, para quem faz gravações em peças de Joalharia, o que representa apenas uma parte do seu trabalho. Ilda faz gravações em qualquer objeto que lhe levem e trabalha muito com Clubes Desportivos e Associações: faz gravações em taças, troféus e medalhas desportivas. Partilha que hoje o Cliente pede coisas que não se pediam há dez anos, "nas gravações não há cor, só riscos. Transformar um desenho percetível só com riscos é um desafio interessante", explica.

Loja da Gracita, número 52
A Loja da Gracita, com 40 anos de existência, é uma loja de "miudezas". Todos os dias, a D Graça coloca os produtos que tem para venda (cuecas, sutiãs, meias, luvas, gorros, entre outros artigos) à porta da sua loja que, quando chove, cobre com plásticos. Diz que se assim não for, as pessoas não entram na loja. A história da D. Graça cruza-se com a história da Rua das Figueirinhas desde... sempre: "a minha infância foi passada aqui porque também a minha Mãe vendeu nesta rua", conta. É por isso que é com muita tristeza que tem assistido à desertificação da Baixa: "as pessoas ganharam outros hábitos e já não vêm para aqui."

Oficina Quarenta Seis, número 46
Há 12 anos na Rua das Figueirinhas, Ruben Hilário é o proprietário desta Loja de Reparação de Computadores e Pequenos Electrodomésticos. Confidencia que se estivesse localizado noutra zona da cidade teria outro tipo de Clientes, Clientes Maiores, mas quem começa a trabalhar na Baixa "habitua-se a isto, gostamos disto", explica. Ainda assim, e apesar de ter muitos Clientes nesta zona, comerciantes a quem faz a instalação de sistemas de venda, tem também muitos outros Clientes que se deslocam à Rua das Figueirinhas para usufruir do seu serviço: "Eu não vivo das pessoas que passam aqui, vivo de quem confia no meu trabalho e se desloca aqui por isso". Apesar de estar emocionalmente ligado à Rua, afirma que se algum dia tiver de sair dali por motivos comerciais... assim o fará.

Noster Taberna & Wine Bar, número 28
Aberto desde Dezembro de 2023, este é o espaço mais recente da Rua das Figueirinhas: uma pequena taberna, num espaço moderno, simples e acolhedor. A ideia de Maria e Pedro, responsáveis pelo Noster, é proporcionar a todos os que os visitam bons momentos de convívio enquanto desfrutam de um Bom Vinho Nacional e picam uns Petiscos. Além dos Vinhos, com enfoque na região da Bairrada, Dão e as Beiras, propõem as Sodas e as Kombuchas como alternativas mais saudáveis aos refrigerantes. O tradicional Caldo Verde encabeça a lista dos petiscos que incluem, por exemplo, Ovos Rotos à Noster, Chouriça Assada, Moelas tradicionais,Tomate Assado com Queijo Rabaçal, Pesto de Tremoços e Presunto.

Bodega Brasileira, número 24
Nani, Fábio e Rafaela trocaram o Brasil por Portugal  em 2020. Apesar de terem, desde o início, a vontade de abrir um espaço na zona histórica da cidade, começaram por abrir na Rua do Brasil. Em 2022 surge a oportunidade de passarem a Bodega Brasileira para a Rua das Figueirinhas e não hesitaram. Assim, desde o Verão de 2023, aquele que era um espaço em ruínas é, agora, um espaço simpático e moderno que oferece à cidade sabores tipicamente brasileiros: Feijoada à Brasileira, Picanha na Chapa, Mandioca Frita, PF (prato feito: arroz, feijão, uma proteína, salada, batata e farofa), entre outros pratos confeccionados sempre "à moda do Brasil". A Caipirinha e os Licores
Típicos do Brasil também não faltam. Quem quiser fazer um almoço ou jantar com Karaoke incluído, este é o sítio certo.

Sete Restaurante, número 10
Foi em 2017 que o Sete trouxe o melhor da gastronomia portuguesa, com um "toque de requinte", à Rua das Figueirinhas. Dos pratos de peixe, destacam-se as Sardinhas Crocantes, o seu Arroz com Cebolinha Assadas  e o Bacalhau em Crosta de Salsa e Esmagada de Batata Doce. Dos pratos de carne, o Chambão de Borrego em  Vinho Tinto com Puré de Castanhas e a Empada de Leitão da Bairrada com Chutney de Abacaxi. Para terminar, o Pudim Abade, Molho de Laranja e Amêndoas Salgadas. Um restaurante que desperta sentidos e conquista paladares.

Barbearia Santa Cruz, número 2
Com 80 anos de vida, a mítica Barbearia Santa Cruz é provavelmente a loja mais antiga da Rua das Figueirinhas. Corria o ano de 1982 quando José Lopes Coelho, na época a trabalhar como Barbeiro em França, soube pelo Irmão que o Proprietário da Barbearia Santa Cruz, Joaquim Lopes do Carmo, procurava trespassar o negócio. Assim, José Lopes regressou a Portugal, fechou o negócio e aqui está até hoje... "regressei às minhas raízes e deixei em França os meus ramos", referindo-se à Filha e ao Neto. Com a bonita idade de 86 anos, José Lopes recorda o movimento de outros tempos: "tinha cinco funcionários, hoje tenho apenas um". Mas não se mostra arrependido de ter regressado a Portugal e conta orgulhoso que pela Barbearia Santa Cruz já passaram várias gerações: avós, pais e netos.

Salão de Cabeleireiro Laurinda, número 2, 2º andar
Tinha apenas 18 anos quando adquiriu este espaço, na altura, já um Salão de Cabeleireiro. Cinquenta e cinco anos depois e com 73 anos de idade, a D. Laurinda diz que continua a trabalhar porque precisa mas, sobretudo, porque ama aquilo que faz. Claro que a idade não lhe permite atender tantas pessoas como há 50 anos atrás, "vinha gente de todo o lado... dos hospitais, da universidade, das finanças, da Câmara, das zonas periféricas", recorda. Ainda assim é enternecedor saber que são várias as Clientes, que apesar da longa idade, 80 e 90 anos, sobem vários lances de escadas para serem atendidas pela D. Laurinda: "então não sobem? Sobem pois. As minhas meninas", partilha.
Essas "Meninas" são a sua família, a família que não a deixa parar: "tu não te vás embora que eu fico sem sítio onde me ir arranjar", dizem-lhe. Na vida da D. Laurinda cabe um sem fim de vidas.

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