"Histórias das Gentes da Baixa de Coimbra" por Nuvideia. Capítulo 6: Sr. Reis

Amizade, humildade, trabalho… depois de estarmos à conversa com o Sr. Reis percebemos que estes são alguns dos motores da sua vida. Uma vida que não foi fácil. Perdeu a mãe apenas com dois meses e aos 11 anos já tinha concluído a quarta classe e guardava ovelhas mas sabia que o seu futuro não podia ser “só” aquilo. Por isso fez a sua própria sorte. Aproveitou a visita do Sr. Peres, um comerciante de Coimbra, à casa do seu pai e fugiu com ele na sua carrinha. 

Com o Sr. Peres começou a trabalhar na mercearia/casa de vinhos que este tinha no Terreiro da Erva. Ganhava 70 escudos por mês. Após dois anos e percebendo o seu potencial os proprietários d’O Espanhol foram “roubar o Sr. Reis”, oferecendo-lhe 300 escudos. Uma proposta irrecusável, dizemos nós, mas o Sr. Reis só aceitou depois do seu primeiro patrão arranjar alguém para o substituir. Honra e gratidão de um menino de 13 anos por quem lhe deu a mão, trabalho, casa, amizade e o ajudou a dar o primeiro passo que viria a mudar a sua vida. 

No Cova Funda Espanhol ficou dos 13 aos 50 anos. Tempo só interrompido pelos três anos que esteve no Ultramar. Em 1968 quando regressou do Ultramar tornou-se sócio do restaurante. 

Quem conhece o Sr. Reis sabe que uma das suas principais características é a simpatia. E foi esta simpatia aliada à humildade com que trata todos os clientes que o fez ganhar inúmeros amigos ao longo da sua vida. É cheio de orgulho que nos diz que durante os anos em que esteve no Cova Funda/Espanhol, muitos foram os que nem conheciam o andar de cima. “Entravam por baixo e saíam por baixo.”, recorda o Sr. Reis. Porque na verdade, acrescentamos nós, iam muito mais do que almoçar ou jantar, iam ver o amigo Reis. 

Quando fez 50 anos achou que era hora de mudar. Era agora ou nunca e o Sr. Reis incentivado por um cliente do Cova Funda ficou com um cantinho no Terreiro da Erva. Augusto Marques Fernandes, um bananeiro que tinha acabado de adquirir um espaço maior incentivou o Sr. Reis a arriscar e a ficar com o seu cantinho no Terreiro da Erva. Mas fez mais. Deu-lhe os primeiros três meses de renda para pagar a ele próprio. Esta história diz muito sobre o carácter destes dois homens, não acham?

Transformou-se então este cantinho no Terreiro da Erva no “Cantinho dos Reis”. Começou com uma salinha pequenina e quem visitou recentemente o restaurante sabe o quanto cresceu. 

A aposta foi sempre a mesma. Grelhados e a arte de bem receber. Arte essa em que o Sr. Reis é doutorado. E por falar em bem receber, há alguém que receba tão bem os estudantes como o Sr. Reis?

Não se atrapalha com o barulho, com a confusão, com o grão na asa… Pelo contrário, o Sr. Reis rejuvenesce com a vida e a alegria da juventude. Foram tantos os que conheceu enquanto estudantes e que se mantiveram amigos até aos dias de hoje. Muitos, agora com 30, 40 ou 50 anos, regressam ao Cantinho dos Reis e continuam a perguntar no final, “Então e as pastilhas?”

Quem nunca recebeu umas Gorila no final de uma bela Grelhada Mista no Cantinho dos Reis não está a viver Coimbra como deve ser. 

O Sr. Reis tem quase 80 anos, 69 dos quais na Baixa de Coimbra e não se imagina em mais lado nenhum porque, como nos diz, nunca conheceu mais nada. É na Baixa que está feliz e onde continua a ir diariamente para receber todos os que passam por este Cantinho, agora não tão “inho”, no Terreiro da Erva. O Cantinho dos Reis foi e continua a ser palco de muitas histórias mas é principalmente o palco de muitos abraços trocados entre amigos que diariamente chegam de vários pontos do país, e não só, para visitar o Sr. Reis.

Rubrica criada pela Empresa de Gestão de Redes Sociais “Nuvideia Comunicação e Imagem”, pertencente a Ana Filipa Fonte e Sara Reis, com o objetivo de recordar os Comerciantes da

Baixa de Coimbra e atrair mais pessoas àquela zona da Cidade e ao Comércio Tradicional e Local.

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