Filmes do Mundo para ver no Festival Caminhos do Cinema Portugês 2025

O cinema como fronteira móvel — onde a criação portuguesa dialoga com novas geografias, novas vozes e novas formas de imaginar. São filmes que falam de identidade, colonialismo e pertença, de violência e cuidado, de sonhos e assombrações, de corpos que resistem e reinventam o seu lugar.

Entre 16 e 21 de novembro, o Teatro Académico de Gil Vivente a Casa do Cinema de Coimbra acolhem a programação da secção Filmes do Mundo, que mostra a presença portuguesa na filmografia internacional. As sessões decorrem sempre às 14h15, com bilhetes entre 3€ e 6€.

O cinema português vive um momento de abertura e transformação. A criação expande-se para além das fronteiras nacionais e cruza geografias, línguas e imaginários, afirmando-se em diálogo com o mundo. A secção Filmes do Mundo reflete essa vitalidade: uma seleção de obras internacionais com coprodução portuguesa, realizadas por grandes nomes do cinema contemporâneo. Tendo mesmo algumas das obras já passado por festivais de referência — Berlim, Locarno, Cannes, Roterdão, Viennale, IDFA, DocLisboa —, numa demonstração  e da força crescente da colaboração artística portuguesa no panorama global.

Com filmes vindos do Brasil, Espanha, França e Portugal, esta secção percorre territórios estéticos e políticos diversos, guiada por cineastas que interrogam o nosso tempo — Lois Patiño, João Vieira Torres, Marianna Brennand Fortes, Albert Serra, Maria Clara Escobar e Avelina Prat. São filmes que enfrentam realidades duras e urgentes: a memória colonial e o racismo estrutural, as formas contemporâneas de intolerância e violência, a luta por identidade e pertença, a vida urbana precarizada, a opressão das mulheres e a transmissão intergeracional do trauma. Há também espaço para olhar tradições e rituais — como a tourada — num confronto entre o sagrado e o brutal, onde o cinema se torna dispositivo de questionamento, ética e resistência. Ao dar visibilidade a estas vozes e geografias, o festival reafirma a responsabilidade do cinema português em dialogar com o mundo e pensar criticamente o seu lugar nele.

Todos os filmes estão elegíveis para o Prémio do Público.

Programação:

16 NOV · DOM · 14:45 · TAGV
Ariel
,  Lois Patiño, 105’, PRT/ESP, 2025
Uma atriz chega aos Açores para participar numa encenação de A Tempestade. Estranhos comportamentos na ilha e o encontro com Ariel abrem-lhe a porta para um território suspenso entre o real e o onírico, onde natureza, espírito e teatro se entrelaçam num ritual poético sobre liberdade, presença e fantasmagoria.

17 NOV · SEG · 14:45 · TAGV
Aurora
, João Vieira Torres, 132’, BRA/PRT, 2025
Uma viagem pelos fantasmas da história brasileira emerge do chamado espiritual da figura de Aurora, parteira e curandeira. Da memória familiar à violência colonial, racial e de género, o filme percorre desertos, corpos e sombras, à procura de uma luz ancestral — a aurora que persiste apesar da ferida.

18 NOV · TER· 14:45 · TAGV
Manas
, Marianna Brennand Fortes, 101’, BRA/PRT, 2024
Na Ilha de Marajó, uma adolescente enfrenta a violência estrutural e o ciclo de abuso que marca gerações de mulheres. Um filme nascido de uma década de investigação, que observa com rigor e compaixão a coragem necessária para romper o destino imposto e afirmar futuro.

19 NOV ·  QUA · 17:30 · TAGV
Tardes de Solidão
, Albert Serra, 125’, ESP/FRA/PRT, 2024
Albert Serra filma o toureiro Andrés Roca Rey com uma intensidade ritual: silêncio, preparação, sacrifício. Entre a arte e a brutalidade, o filme confronta-nos com um corpo em guerra consigo e com o mundo, e com uma tradição que oscila entre o sagrado e o insuportável.

20 NOV · QUI· 14:30 · TAGV
Gil, Let’s Explode São Paulo
, Maria Clara Escobar, 97’, BRA/PRT, 2025

Gil sonha ser cantora. Entre o trabalho precarizado, a vida urbana e o desejo de emancipação, a câmara acompanha o improviso e a potência política do sonho. Uma explosão de amizade, cinema e música como rebelião íntima contra o apagamento social.

21 NOV · SEX · 14:45 · CCC
A Quinta
, Avelina Prat 114’, ESP/POR, 2024
Um homem devastado assume outra identidade como jardineiro numa quinta. Entre perda, reinvenção e uma amizade inesperada, o filme constrói um território emocional delicado onde a vida recomeça na sombra do que se perdeu — e onde habitar outra vida pode ser a única forma de voltar à própria.

De 15 a 22 de novembro, o Caminhos do Cinema Português decorre em Coimbra, Benfica (Lisboa), Penacova e Mealhada, com 63 sessões e mais de 110  filmes, celebrando o que de mais vivo e urgente se faz no cinema português e nas suas ligações ao mundo. Mais informações em caminhos.info.

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