O Teatrão: De portas abertas para si!

Isabel Craveiro, directora artística do Teatrão | Fotografia: Carlos Gomes

Isabel Craveiro, directora artística do Teatrão | Fotografia: Carlos Gomes

Desde 1994 que o Teatrão desenvolve trabalhos com e para a comunidade. E foi da Cidade dos Estudantes que fizeram a sua ‘casa’.

Depois de anos e anos junto da comunidade, a mesma, não lhe falhou. E depois destes meses de uma pausa forçada, o Teatrão voltou abrir as portas, e Coimbra disse presente.

Estivemos  à conversa com a sua Diretora Artística, Isabel Craveiro, Isa para os ‘amigos do Teatrão’, que nos contou tudo sobre este espaço e o regresso à ‘normalidade’. “ Em junho criámos uma atividade para auscultar o público e os seus receios em relação à retoma da nossa atividade”. Esse projeto foi “fundamental". "É um exemplo claro desta ideia de presença e proximidade, de afirmar ao outro que ele importa, que a sua opinião é ouvida”. Foi, e é nessa base da proximidade que o Teatrão trabalha.

Numa relação que tem dado frutos. É assente na confiança e no lema “estamos sempre e estamos perto das pessoas” que a cidade tem respondido, sempre. “ Como espetadores, como parceiros, na vontade de colaborar ou discutir. Com entusiasmo.”

Tudo começou em 2010, quando desenharam espetáculos de intervenção na comunidade, com a colaboração em Peregrinações, a partir de Fernão Mendes Pinto, para o Município de Montemor. Seguiu-se, Coimbra 1111, Shakespeare no Castelo, Arruinados e O Alvazil de Coimbra.

Entre 2010 e 2014, exploraram o território do Baixo Mondego, realizando“projetos de grande dimensão em parceria com o tecido teatral amador e os Municípios”. Um modelo que acabou por evoluir “para outras formas, associando a necessidade de maior pesquisa e conhecimento sobre as comunidades e as suas ambições”. Um ano depois, em 2015, começaram a estruturar a Rede Artéria “que viria a  constituir-se em 2018, para oito municípios da Região Centro e num modelo mais ambicioso de trabalho e reflexão sobre as comunidades no que à intervenção e ordenamento cultural diz respeito (www.redearteria.pt)”. Atualmente, “o projeto sobre o Vale da Arregaça (2019/2021) já revê criticamente todas estas experiências”, concluiu.

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E, apesar de todos os condicionantes, as atividades não param . No início  deste ano, nasceu o “De Portas Abertas”, um projeto de intervenção  que abrange várias áreas: “a criação artística, a formação, o impacto e empoderamento social, o urbanismo e a habitação social”. Um arranque difícil, marcado pela conjuntura, onde as “atividades de criação e programação foram adiadas e adaptadas na medida do possível”, porém, “o mapeamento cultural e angariação de parceiros correu muito bem”. Um projeto que tem como objetivo o de “criar um impacto transformador nesta zona da cidade”.

Também já é possível dar as boas-vindas a uma Tabacaria renovada. Um espaço que “teve uma intervenção da responsabilidade da Câmara Municipal de Coimbra”. Onde existiu uma melhoria do bar e da copa com os equipamentos adequados para que haja uma maior qualidade no atendimento. Num local “onde houve a renovação do espaço mais uma vez da autoria da Joana Cardoso”.

Mas, e , “infelizmente a programação da Tabacaria foi a mais afetada com a pandemia. Dadas as dimensões do espaço ainda não foi feita a reprogramação das atividades de forma sistemática para a Tabacaria”. Foi aproveitado para fazer uma melhoria no conceito de programação. Isa, garante ainda “que assim que pudermos abrimos com melhorias: mais diversidade e novos horários de funcionamento”.

No meio das adversidades e de alguma esquizofrenia, há sempre espaço, para o otimismo e a esperança no futuro. E, é por isso mesmo, que neste momento se encontram a ensaiar, uma produção que irá para palco em março. Em paralelo estão em “pré-produção das restantes criações, para junho, julho e outubro de 2021”. Um trabalho que requer sempre “muita investigação, construção de equipas, financiamentos. Isto, claro, para além do Serviço Educativo. É sempre muita atividade”. Daí ter que ser um futuro planificado e programado. Porque, é preciso “trabalhar com muita antecedência, mas tentando estar preparados para ter que fechar outra vez se a situação se agravar muito”.

Contudo, uma coisa de cada vez. E, há sempre coisas boas a acontecer. Neste caso, a vontade que o União de Coimbra, tem em querer o Teatrão como Sócio Honorário do Clube. Para o Teatrão e as as suas pessoas “é uma honra. Nestes projetos, as relações construídas ficam para a vida, aprofundam-se”. É uma possibilidade que “queremos explorar com eles a de trabalharmos mais em conjunto”, finalizou.  

Entretanto, seguem os espetáculos e as aulas de teatro, sempre a “respeitar escrupulosamente as diretivas da Direção Geral de Saúde sobre desinfeção, distanciamento social e reorganização dos espaços, respeitando os limites das diferentes áreas”. Foi seguindo o plano de contingência que “as turmas de teatro tiveram de ser todas desdobradas para podermos trabalhar no espaço da sala de ensaios, obrigando a duplicar horários”. O que levou ao “reforço enorme de limpeza , obrigando a um grande esforço financeiro”. Não só nas aulas, no serviço educativo ou nos espetáculos “temos recebido um ótimo feedback sobre a segurança e organização”.

E, é “sempre a pensar em Coimbra, na cidade e nas pessoas” que o Teatrão e os seus planos seguem. Uma gestão e planeamento já a pensar nos anos 2022/2027, nos próximos ciclos de programação e criação. Onde irão “acontecer mudanças nos modelos de apoio do estado, vamos querer continuar a crescer a expandir o nosso trabalho e vamos ver se o mundo muda para melhor assim que superarmos o problema atual”.

Para Isa, o Teatrão “consegue materializar, na sua relação com a cidade, o que projeta. Uma relação de extrema cumplicidade e dependência”. Um trabalho que não só se faz no palco mas também fora. Onde existe a necessidade de trabalhar com “verdadeiros encontros, com a vontade de contar histórias e de transformar para melhor a cidade e a região”.

Num tempo onde “a única certeza é que o mundo tem de mudar. Sabemos que sem pensamento crítico e criativo não haverá futuro”.

 E é por isso é que é tão especial. O Teatrão precisa das pessoas, mas, as pessoas também precisam de um Teatrão. Aos interessados deixamos aqui o site : http://oteatrao.com/ E mais informamos, que os bilhetes podem ser adquiridos online, através da Ticketline. 

Texto: Sara Salgueira