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Perigo Feliz — Com projeto de Tiago Rodrigues

A École des Maîtres é um projeto de formação mas tem um coração que bate exatamente como o coração do processo de criação de um espetáculo. Vou trabalhar com 16 jovens atores da Bélgica, França, Itália e Portugal exatamente como se estivesse a inventar uma peça. À medida que vamos viajando por estes países, mostramos o nosso trabalho, como se pedíssemos ao público que medisse o ritmo cardíaco deste nosso encontro. 
O que mais me interessa em fazer teatro é precisamente o encontro. Quero escrever para quem me rodeia e estou mais interessado nos nossos problemas e desejos do que num dispositivo cénico, em personagens ou algo desse género que pudesse imaginar sozinho em casa. Tenho o desejo egoísta de fazer um teatro que seja absolutamente “nosso”. Quero estar no teatro como num naufrágio: primeiro as pessoas e depois logo se vê o que mais conseguimos salvar. 

O mais delicioso problema do nosso encontro na École des Maîtres é que falamos línguas diferentes. Falamos as línguas dos países de onde vimos, mas também outras, como as dos nossos antepassados emigrantes, o dialeto da região onde vivemos ou a língua que aprendemos na escola ou numa viagem. Trabalhamos com essa confusão de línguas. Todos os dias estamos face ao perigo feliz da tradução. Perigoso por causa do risco de não nos entendermos, mas feliz porque teremos de inventar formas de nos entendermos. Carregamos na nossa bagagem um declarado amor às palavras, deleitamo-nos com os jogos de tradução e mergulhamos nas generosas complicações de um mundo poliglota.
No fundo, falamos constantemente da importância de nos compreendermos sem termos a certeza absoluta de nos estarmos a compreender, porque sabemos que a tradução é “a arte do fracasso”. Ou a arte da tentativa. Temos a sensação de que, à pequena escala do nosso grupo, o gesto de traduzir pode ter um significado político, mas também íntimo. Tentamos explicar o som das nossas palavras e aprender o som enigmático das palavras do outro. Negociamos sentidos e emoções. Não é nada de muito especial. Não é nada que não aconteça todos os dias em vários pontos do planeta. Falaremos todas as línguas que pudermos, as que conhecemos e as que ignoramos, na esperança de que os nossos corações aprendam a bater ao mesmo tempo.
— Tiago Rodrigues

Projeto de Tiago Rodrigues

Com Nicola Borghesi, Valentino Mannias, Aleksandros Memetaj, Paola Senatore (Italia); Adrien Desbons, Deborah Marchal, Ilyas Mettioui, Marie-Charlotte Siokos (Belgique); Elsa Agnes, Victoire Du Bois, Camille Pellicier, Simon Terrenoire (France); Diego Bagagal, João Cravo Cardoso, Diana Narciso, Nádia Yracema (Portugal)

2.ª apresentação Teatro Nacional D. Maria II (16 set, Sala Garrett)

Fotografia Filipe Ferreira

auditório TAGV
entrada gratuita

Evento Anterior: 9 de setembro
Buscapólos
Evento Posterior: 13 de setembro
FESTIVAL LUX INTERIOR | DIA 13 SET